A Viúva que nos fez Viúvos
Sua primeira aparição foi em 2010 no filme Homem de Ferro 2: ruiva, linda e sexy; cheia de características que saltavam aos olhos dos marmanjos. Aparentemente, mais uma presa para Tony Stark, porém, não foi difícil compreender que ela era nada mais nada menos do que a femme fatale da S.H.I.E.L.D. disfarçada de assessora. Tamanha perfeição na aparência foi ofuscada apenas pelos cachos desenvolvidos na cena final do filme, semelhantes à uma peruca mal feita estilo anos 80/90. Em contrapartida, contemplamos uma verdadeira coreografia de habilidades marciais, onde a personagem nocauteia com maestria vários capangas, deixando-nos impressionados e ansiosos para saber mais sobre sua participação no Universo Cinematográfico Marvel.
Em 2012 somos presenteados pelo primeiro filme dos Vingadores. Aqui, passamos a conhecer um pouco mais da agente Romanoff, que ainda é reconhecida e apreciada pelos fãs apenas por seus atributos físicos, explorados através de seu “justo figurino injusto”, fiel às hqs. Mas a agente não foi inserida à equipe apenas para ser um objeto de desejo para os homens. Ela apresenta habilidades marciais e mentais, sendo capaz de manipular e confundir qualquer pessoa com seu preparo e inteligência. Assim, os Vingadores tem a sua representante feminina, a mente do grupo que sem o encabeçar, calcula cada ação que deve ser tomada e orienta seu time.
O ano de 2014, foi marcado pela estreia dos irmãos Russo no MCU com o primoroso filme: Capitão América, Soldado Invernal e novamente, a agente Romanoff é destacada, mas dessa vez como um membro de grande impacto e braço direito de Nick Fury. Dessa vez, Natasha é a agente de confiança, pronta para servir e fazer qualquer coisa ordenada pela S.H.I.E.L.D, mesmo gerando dúvidas em seu caráter. Diferentemente dos dois primeiros filmes, conhecemos uma nova camada mais despojada e descontraída da personagem. Sua sensualidade é mantida, mas abre-se espaço para uma feminilidade que arranca risos ao mexer com a abstinência sexual do herói mais nobre e fiel do Universo Marvel. Nesse longa, Natasha é a boa “parceira policial” do protagonista, que coloca seu cargo em risco para ajudar o companheiro, e se redimir com o mesmo após “magoá-lo”. Seu corpo já não é o centro das atenções, mas sua beleza é ressaltada em cada ação executada. Suas cenas de quebra pau são bem desenvolvidas, com direito a perseguição de moto numa avenida super movimentada e um arriscado mano a mano com o Soldado Invernal.
Passamos para Vingadores, a Era de Ultron no ano de 2015 e entendemos que a roupa da personagem já não marca tanto quanto a sua presença. Dessa vez, a construção da personagem está além de apenas um corpo, uma mente ou um membro. Percebemos agora seu lado sensível e apaixonado pela figura do brutamontes da equipe: o Hulk. Natasha se mostra disposta a ajudá-lo no seu auto controle sendo a primeira a tocá-lo (por dentro e por fora). Através de seu afeto, desperta no cientista a coragem do monstro e aguça no monstro, a sensibilidade do cientista. Mas a desconstrução da personagem não para por aí, além de enamorada, nossa heroína é também a “amiga de longa data” e a “tia legal” , características demonstradas através da sua relação de amizade com o Gavião Arqueiro e toda a sua família. Descobrimos então o Coração da equipe dos Vingadores: uma Viúva Negra, carismática com seu lado afetivo exposto, tornando-se uma figura ainda mais próxima do público.
Em 2016 chega o filme tão esperado pelos fãs: Capitão América, Guerra Civil. Nesse novo longa, nossa heroína já está consolidada e cada vez mais afiada em suas cenas de ação. Já de início, presenciamos sua dança marcial para recuperar um explosivo e nos deparamos com um show de agilidade e maestria nos movimentos. O filme, carregado de heróis divididos por escolhas distintas, traz agora uma Viúva Negra complacente e apaziguadora. Dessa vez, ela atua como uma verdadeira diplomata, disposta a acabar com a guerra gerada em sua equipe para prosseguir seu trabalho de heroína. Suas habilidades de manipulação mental não são tão exploradas, pois a mesma age com sabedoria e cordialidade. Nem team cap, nem team stark; a nossa Viúva Negra joga em seu próprio time!
O ano é 2018 e chegamos à Vingadores Guerra Infinita, ponto ápice dos heróis do Universo Marvel. Após dez anos de construção, Romanoff brilha ainda mais na equipe. Agora sem seu figurino padrão sexy, desestabilizando o perfil de heroína sexista tão explorado no mercado do cinema e quadrinhos ao longo dos anos. Chega de focar nas curvas e nos cabelos, o foco atual é a personagem e suas habilidades de guerreira. Refugiada, ela retorna com grande estilo, ao lado do Capitão América e cheia de energia para resgatar Visão e a Feiticeira Escarlate dos filhos de Thanos. Viúva Negra é agora um soldado essencial ao exército do bem, tão forte e hábil quanto qualquer outro herói, somando ao grupo e atuando em igualdade, estando disposta a perder a vida para salvar a humanidade. Destoando de suas outras participações como a parceira dos grandes heróis do sexo masculino, pela primeira vez contemplamos nossa soldado em parceria com outras mulheres. Imponente, poderosa e corajosa; uma referência para as demais! A partir dessa união, entendemos o quanto pode ser mais atuante o papel feminino no time dos Vingadores e no mundo dos Heróis. Um “lacre” despretensioso? Uma militância velada? Particularmente, entendo como um marco necessário para o público consumidor de filmes de heróis. Em meio à derrota, sua vida é preservada no final do filme, sugerindo aos fãs que ainda haveria mais camadas da personagem poderiam ser descobertas.
Finalmente chegamos ao último filme dessa fase MCU: Vingadores Ultimato. Os fãs estão em polvorosa com o surgimento da Capitã Marvel e repletos de expectativas em relação ao que essa heroína pode trazer ao universo. Natasha parece ofuscada em meio à tantas especulações sobre a “novata”. Contudo, no decorrer da trama percebemos a delicadeza do estúdio em valorizar os heróis clássicos, mantendo os novatos como pano de fundo. Logo, encontramos nossa heroína contida, segurando a preocupação com o que acabara de acontecer ao universo através do estalar de dedos do maior vilão da Marvel. Sua preocupação ainda atrelada à esperança de refazer a história e junto aos parceiros sobreviventes, buscar vingança. A vitória sobre o vilão é rapidamente executada, mas o holocausto permanece. Mais uma derrota para os heróis. Os anos passam e Natasha sobrevive seus dias tentando manter um legado que a S.H.I.E.L.D construiu ao longo dos tempos. Devido à sua experiência, passa a liderar a vigilância mundial, utilizando toda sua sabedoria e articulação em estratégias. Não é difícil notar em seu olhar a angústia da derrota e o sufoco em viver em um mundo praticamente deserto. Falta-lhe algo. Dessa vez, a Viúva Negra faz jus ao seu nome de guerra, colocando-se em luto, tornando-se literalmente a viúva dos seres que viraram pó. A forte e destemida heroína está frágil, mas tenta se manter erguida trabalhando incansavelmente. Quando surge a oportunidade de uma reviravolta através da viagem no tempo, percebemos o ressurgimento da soldado retratada nos filmes anteriores. Dessa vez mais contida e mais madura, porém disposta a sacrificar sua vida para mudar o destino do Universo. Ao descobrir que o sacrifício de alguém que ama seria a solução, mostrou seu verdadeiro papel na equipe e se jogou sem pensar no penhasco, mesmo quase sendo impedida pelo amigo Gavião Arqueiro, provou que era necessário entregar a sua vida. Morreu em busca da cura de sua própria alma, demonstrando que ela era a verdadeira “Alma dos Vingadores”, mantendo sua energia presente na memória e no coração de cada membro. Seu sacrifício só ressaltou sua importância como uma heroína genuína, fazendo de seus parceiros eternos viúvos da Viúva Negra.