The Boys! Quando as máscaras caem…
Imaginem nosso mundo repleto de heróis espalhados por todas as cidades do planeta sejam elas grandes ou pequenas. Pensem na sensação de segurança e nos privilégios que tudo isso traria para as nossas vidas.Sem falar no prazer que nós, Geeks, teríamos ao encontrá-los nas ruas a qualquer momento para tirar uma selfie… Lindo, não é mesmo? Seria um mundo perfeito.
Mas enquanto esse mundo está bem longe de existir, a Amazon nos traz essa realidade de uma forma bem peculiar e avessa à utopia que imaginamos acima. Baseada nos quadrinhos de Garth Ennis, o canal streaming lançou nesse ano a série The Boys: um grupo de civis anti-heróis que se juntam para, literalmente, desmascarar a máfia envolvida entre os seres providos de dons especiais (https://youtu.be/-iOi1f2CEcQ) .
Em sua premissa, temos uma realidade atual, distópica, onde aparentemente diversos heróis protegem os cidadãos americanos, trazendo a sensação de paz e conforto. Seus símbolos e rostos estão espalhadas pelas grandes cidades em cartazes, outdoors e painéis de led, pois, além de protetores, são garotos propagandas e influenciadores digitais. Participam de grandes eventos privados e públicos, movimentam o mercado com seus diversos produtos e se dispõem às ações sociais, que agradam pessoas carentes, doentes em fase terminal e diversos fãs pelo mundo todo.
Mas será que o público realmente é beneficiado com esses seres? Será que o mundo está mais seguro?
Essas são questões que desvendamos logo no primeiro episódio, afinal, a ideia da série é mostrar o submundo omitido entre capas e máscaras. Aquilo que parece ser um sonho para qualquer cidadão, vai se desconstruindo durante cada episódio e aos poucos percebemos que nem tudo são flores. Além de problemas sociais, os mesmos apresentam desvio de caráter, envolvimento com o tráfico organizado, manipulação política e até cometem abusos sexuais… E nem pense que estou dando spoiler, pois a graça está em mostrar todo o esgoto pútrido gerado por esses seres superpoderosos.
Tanto que os verdadeiros mocinhos, são meros civis emaranhados entre a população. O grupo chamado The Boys é formado por um ex policial, um jovem que trabalha numa loja de eletrônicos, um francês meio MacGyver e um carcereiro de um tipo de FEBEM que atende pelo nome de Leitinho. Como membro feminino (ironicamente chamada de fêmea) tem uma jovem asiática que foi geneticamente alterada para se tornar uma arma de guerra letal. Todos eles têm suas vidas frustradas por erros cometidos pelos que deveriam ser os salvadores da Pátria, por isso, fazem de tudo para destruir cada herói e mostrar para a população que eles não são tão bons quanto falam.
Os antagonistas são os heróis de elite pertencentes ao Time dos 7. Eles são “produtos” de uma empresa multimilionária que os orienta com assessoria e equipamentos necessários para manter um alto padrão no grupo. A equipe conta com a enigmática Rainha Maeve, o mal-caráter e viciado Trem A ou Trem-Bala, o incompreendido Oceano, o enigmático Sombra Negra e o pervertido Translúcido, que nas horas vagas usa seus poderes para espiar a mulherada no banheiro. Todos eles são vistos como os ícones entre os demais heróis e os civis. O grupo conta com a inclusão da jovem, pura, meiga e religiosa Luz Estrela e é liderado pelo ilustre Patriota ou Capitão Pátria, um super herói bem estereotipado ao estilo americano, com um uniforme baseado nas cores da bandeira dos EUA, que mais parece uma mistura de Capitão América e Superman com caráter as avessas.
Além do enredo diferenciado, a série apresenta uma fotografia excelente e planos de vista que exploram seus cenários e ambientes com maestria. Num momento, somos contemplados com lugares claros, limpos e grandiosos que favorecem os atributos dos heróis. Em outro, somos levados a lugares pequenos, sujos e escuros; que evidenciam a podridão de suas ações clandestinas.
O figurino cafona, parece ter sido copiado à risca das HQs dos anos 80 e 90, claramente satiriza os heróis Marvel e DC, mas não destoam do cenário apresentado e muito menos nos causam desconforto visual. Aliás, achei muito semelhante ao figurino de Kick Ass, por causa das cores e do estilo exagerado de alguns. O roteiro pesado e carregado de humor ácido nem se compara ao que é apresentado nos quadrinhos, mas mesmo assim choca, intriga e prende nossa atenção. Mesmo com efeitos especiais não muito rebuscados, a produção não deixa a desejar e apresenta alguns pontos altos em slow motion. Além disso, não poupa esforços para carregar nossa tela com explosões de corpos e banhos de sangue.
The Boys, não é uma série para garotinhos. Com suas cenas pesadas de violência e erotismo, é o tipo de produção para adultos iludidos com a benevolência dos super heróis e com sede de uma história densa. Pode até destruir toda sua ludicidade e esperança em relação ao mesmos, mas, te presentea com excelentes fãs services e uma trama totalmente original. Vale à pena “se decepcionar”… Merece: