CAROL e WILLOW: Aquelas que não precisam te provar nada!

Numa época em que o empoderamento feminino é um assunto muito discutido e pautado em diversas mídias, nada mais justo que falar de filmes com mulheres protagonistas em diferentes contextos. Se você acha que esse é o momento de levantar bandeira e dizer que essas duas obras vieram para empoderar ainda mais a mulher injustiçada ao longo da história, sinta-se à vontade para não ler esse texto. Este será apenas um comparativo de dois filmes que foram pensados para as personagens, tal como personagens e tão somente como personagens. Para os “machos alfas” que exalam testosterona por onde passam, esses filmes podem parecer de “mulherzinha” ou de “mocinha”; para a mulher atual, um reforço à luta feminina contra o domínio social do homem. Mas para apreciadores de filmes, duas ótimas histórias, com personagens interessantes e bons elementos de entretenimento.

 

Capitã Marvel por exemplo, é um filme que aparentemente apresenta apenas uma protagonista linda, de sorriso resplandecente e corpo escultural. Porém, tais qualidades ficam em segundo plano: o sorriso resplandecente quase não aparece devido ao perfil sério e compenetrado da personagem, bem do tipo marrenta, sabe? O corpo escultural é escondido em seu uniforme de batalha, que ao que parece, não tem sequer um fiapo de tecido agarrado à pele. Logo, compreendemos que a ideia do filme não é chamar atenção pelos “atributos” físicos da heroína, mas sim por quem ela representa. Percebe-se muito mais o foco nas características de Carol Danvers (Brie Larson), do que nos poderes da Capitã Marvel.

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Já em Dumplin, o efeito é diferente. A protagonista Willowdean Dickson (Danielle McDonald), apesar do lindo sorriso, não chama atenção pelo corpo escultural ou pelos padrões físicos de beleza que esperamos em qualquer atriz estrela de um filme romântico. Sua beleza está no jeito cativante de ser, na simpatia e no carisma que transmite ao público. Ela também não faz “a meiga” e nem precisa; sabe se impor diante de qualquer situação e sabe se resguardar quando necessário. Apresenta seus conflitos atrelados ao peso, mas tenta lidar com isso de forma bem natural, esbanjando autenticidade.

 

Se no primeiro filme há todo um cuidado para não expor o corpo da protagonista até mesmo por sua posição de soldado do universo, no segundo, Willow não se preocupa com o que precisa vestir. Apesar de não tentar demonstrar sensualidade, a garota opta em usar roupas confortáveis que lhe deixam à vontade. Simplesmente é o oposto de Rosie Dickson (Jennifer Aniston), sua bela mãe, que carrega consigo a fama de eterna “Miss Teen” da pequena cidade que mora. Uma mulher trabalhadora, dedicada, mas extremamente vaidosa. A cada momento em cena, nossa eterna “F.R.I.E.N.D Rachel”, nos incita a criar pré-julgamentos e sentenças através de seu comportamento e aparência. Carol Danvers chama atenção em sua beleza física, mas, Willow ganha em simpatia e alegria. Logo os estereótipos são desconstruídos pouco a pouco nos dois filmes, gerando no público a reflexão relacionada aos padrões já estabelecidos culturalmente, tanto no mundo dos heróis como na sociedade real.

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No filme da heroína, encontramos a ex-agente da Força Aérea dos Estados Unidos vivendo em um planeta distante da Terra, aliada ao exército de soldados do qual acredita ser sua família. Treinada para eliminar uma outra raça alienígena, ela não mede esforços para vencer os oponentes. Já em Dumplin, lidamos com a história de uma jovem aparentemente auto confiante, mas que de certa forma, sente-se uma alienígena e acaba se colocando em uma situação avessa aos seus ideais para protestar contra a vaidade da mãe e a superficialidade das pessoas a sua volta.

 

Carol Danvers é uma mulher de poucas palavras que pouco nos cativa, porém, suas descobertas em relação ao seu passado e suas possibilidades no futuro dos Vingadores chamam nossa atenção. Willow é radiante, alegre, simpática, fala além da conta e, por causa disso, nos conquista logo à primeira vista, permitindo sororidade e empatia com a mesma. Uma, volta ao seu planeta natal por acidente, mas se depara com uma série de pistas que a fazem descobrir sua verdadeira identidade. A outra já tem sua identidade firmada e construída pela autoestima gerada a partir de sua relação com a tia que era sua inspiração durante a infância. Ela tenta construir seu presente a partir do passado com a tia, entra em um concurso de beleza para afrontar a mãe, mas, aos poucos, potencializa uma auto estima que nem ela sabia ter. Passo à passo, cada uma descobre seu verdadeiro potencial reprimido, seja  pela obediência cega à um mentor, ou pelos padrões impostos pela sociedade e seguidos a risca pela mãe superficial.

 

Toda protagonista precisa de uma boa parceria para trocar experiências, dividir emoções e compartilhar momentos. Nick Fury (Samuel L. Jackson), através de sua jovialidade e toda sua irreverência traz à Carol um lado mais leve, que a mesma não lidava enquanto estava em outro planeta. O mesmo consegue filtrar a acidez da garota e fazendo expressar emoções que não faziam parte de seu contexto. Já Ellen “El”(Odeya Rush), a melhor amiga de Willow é aquela que se identifica com a protagonista, mas não deixa sua personalidade de lado. Fala o que deve ser dito e age como precisa agir, mesmo se estiver contrariando a vontade da amiga.

 

Há também a cota de personagens fofos e cativantes que representam alívios cômicos, gerando boas risadas e suspiros em suas aparições. O mascote Goose com toda sua fofura é uma peça fundamental em Capitã Marvel, suas aparições sutis são essenciais e divertidas. No entanto, o gato parece ter um temperamento duvidoso sem falar na habilidade fora do normal, capaz de digerir qualquer objeto ou inimigo. Falando em habilidades,  não podemos deixar de falar da Millie Michalchuck (Maddie Ballio), uma jovem deslumbrada com o concurso de beleza que parece ter a alegria fora do normal, chega a dar raiva…rsrsrs… Com seu lindo sorriso e seu jeito ingênuo de ser, ela representa atitudes e valores descartados em dias atuais. A princípio, julgamos seu jeito de ser como de alguém bobo, idiota, com a cabeça fora da realidade, mas em cada aparição da personagem, tudo isso é desconstruído. Ela é mais segura do que pensamos, mesmo sendo uma pessoa religiosa, tem a mente aberta, livre de preconceitos. Através de sua generosidade e participação no concurso de beleza, passa uma boa mensagem de perseverança e superação.

 

Ambos os filmes há o acerto na história de origem. Enquanto Dumplin retrata isso de forma poética, mostrando a origem de Willow ao som de Dolly Parton,  Capitã Marvel demonstra aos poucos, através de flashes de memória que vão se desencadeando ao longo da trama. Um segue a “tradição Marvel” de pecar com mais um vilão mediano: Yon-Rogg, que não mete medo algum em ninguém, mesmo sendo interpretado pelo ator de peso Jude Law. O outro acerta em não deixar explícito quem é o antagonista, mesmo mostrando uma linda garota ao “estilo rainha do baile perversa” que na verdade, nem fede e nem cheira na trama. Aliás, ao ver esse filme, percebi que era mais comum minha mente agir como vilã devido aos pré-julgamentos que fiz com alguns personagens do que identificar algum.

 

Não LACRAM, mas tem o ar de representatividade.
Não SUPERAM, outras obras similares, mas atingem a expectativa do público.

Não INOVAM nem SURPREENDEM, mas não decepcionam.

Capitã  Marvel e Dumplin AGRADAM. Ambos são duas produções totalmente diferentes que merecem nossa atenção pela qualidade do roteiro, da direção e das mensagens explícitas e implícitas que passam ao público.

 

Edy

Edy "Aquele que caiu de paraquedas por causa da curiosidade que matou o gato..." Enfim, sou geek, sou professor, sou leitor de quadrinhos (Aracno-fã e apaixonado pela Turma da Mônica) sou um consumidor de séries e filmes dos mais convencionais aos mais peculiares ... Não. Eu não sou a Universal!